terça-feira, 15 de dezembro de 2009

M.10- Memórias da Teresa - "Surpresa"


M.10ERESA


Surpresa



Vanessa chegou mais cedo a casa, dirigindo-se imediatamente à cozinha, onde se encontrava a mãe a preparar o almoço.
— Mamã, posso falar contigo?
— Agora não! Estou atrasadíssima e os teus irmãos chegam daqui a pouco. Estive toda a manhã a decorar a sala; como sabes, o Natal é bonito, mas dá muito trabalho.
— Eles ainda demoram. Eu vim mais cedo para casa.
Não tive aula de alemão, o meu professor ficou em casa doente.
— Mesmo assim, estou atrasada e não tenho tempo para te ouvir. Não pode ficar para depois do almoço?
— Mamã, preciso de falar contigo já. É um assunto muito importante.
— Porque é que os meus filhos têm sempre coisas importantíssimas para me dizer à hora do almoço? Já é uma praga!
— Mamã, por favor!
— Está bem, Vani, então diz lá.
— Hoje na aula de moral o nosso professor pediu para não esquecermos o significado do Natal. O Natal é a festa do nascimento de Jesus, que veio ao mundo para nos salvar. Temos que manter com as nossas obras e acções a mensagem de amor que Ele nos trouxe.

— Vani, queres dizer, que este ano não queres presentes?
— Não é isso, mamã! Tu trocas sempre tudo. Podemos manter o Espírito Cristão do Natal mesmo com presentes.
— Então, o que me queres dizer com toda essa conversa?
— O meu professor sugeriu, que seria um gesto bonito convidar um sem-abrigo para festejar a Noite de Consoada com a família.
— É um gesto bonito e muito cristão, não haja dúvida.
— Queres dizer, que concordas em convidar um sem-abrigo para consoar connosco?
— Connosco? Por amor de Deus! Não foi isso o que eu disse, Vani. Eu só disse, que era um gesto bonito e cristão.
— Mamã, tu achas a ideia boa, mas não a queres praticar, é isso?
A mãe horrorizou-se só de pensar numa Noite de Consoada com um sem-abrigo - numa sala que tanto trabalho lhe dera a decorar. Resignada respondeu:
— Está bem, Vani, vou pensar nisso, mas agora deixa-me fazer o almoço.
Vanessa cantava no coro da igreja. Todos os domingos lá estava toda a família no banco da frente a assistir à missa e para a ouvir cantar.
No 3º Domingo de Advento o padre Gregor dirigiu-se aos fiéis após o sermão, dizendo a mesma coisa que a Vanessa tinha dito dias antes. Também ele falou solemente sobre o significado do Natal, terminando com as palavras, de que seria um acto cristão e do agrado do Senhor, se cada
família convidasse na Noite de Consoada um sem-abrigo ou um estrangeiro.
— Alto lá! Então, os estrangeiros são considerados uns sem-abrigo, disse a mãe entre dentes.
A caminho de casa foi a mãe a primeira a falar:
— Vani, e se convidássemos um estrangeiro em vez de um sem-abrigo?
A filha olhou para ela surpreendida
— Se preferes, podes convidar um estrangeiro.

A mãe suspirou aliviada.
Por volta das 4 da tarde do dia 24 de Dezembro toda a família se reúniu na igreja da paróquia, sentando-se no primeiro banco para assistir à missa de Natal para as crianças . A Vanessa cantou no coro e a Vivien
foi um dos pastorinhos na cena do presépio. 
No final da missa houve as habituais trocas de Boas Festas no adro da igreja. 

Um ambiente quente e acolhedor esperava a família em casa, sendo o enorme presépio e a àrvore de Natal decorada a primor o encanto de todos.

Da cozinha não chegou a fumegar o bacalhau com todos, a ceia da consoada da mãe noutros tempos; da cozinha chegou sim, um cheirinho a ganso assado recheado com castanhas.
Entretanto a Vanessa começou a ficar impaciente.

- Quando chega o nosso convidado, mamã? perguntou ansiosa.
Maliciosa a mãe sorriu.
— Já chegou, minha querida.
— Já chegou? Aonde está?
— Aqui, Vani: SOU EU!


7 comentários:

BlueVelvet disse...

Já tinha lido lá no blog dela.
A imaginação d Teresa é assim.
Beijinhos

Beijinhos de cor disse...

Teresa

Tal como disse lá no blog, fartei-me de rir!

Está escrita com muita imaginação e criatividade!

Gostava de saber a reacção da Vani.

Beijinhos cheiinhos de Pó de Estrelas

Cândida Ribeiro disse...

Pois eu também achei o máximo esta história de Natal.
Ainda se pode ver o meu sorriso de orelha a orelha!
Bem contada, com criatividade e humor.
Daqui vou ao blogue da Teresa, dar um beijinho.

Beijinhos coloridos

alegria de viver disse...

Olá querida
Todas as histórias são um sucesso, cada uma tem um toque próprio, mas o ingrediente principal é AMOR, e é isso que torna todas tão lindas.

Obrigada pelo encantamento que colocaste na minha imagem dei uma olhada e vi as fadas brincando, esta é a magia de um coração lindo como o teu.
Com muito carinho BJS.

ematejoca disse...

Estou-te muito grata, Quincas, por teres publicado uma história de natal verdadeira, mas sem aquele espírito de amor ao próximo como estão os leitores à espera nesta época do ano.
A polémica, que provoquei com a minha decisão de me convidar a mim própria, uma vez, que cá em casa sou a estrangeira, vou contá-la na segunda parte desta história de Natal verdadeira.

Boa noite!

Beijinhos de cor disse...

Rufina Querida

Como não havias de ver as fadas, se tu és uma delas?

Adoro ir ao teu cantinho e fico muito contente de te ter aqui!

Um Beijinho Encantado

Beijinhos de cor disse...

Teresa

A tua história não difere em nada daquilo que a grande maioria de nós faria.

O Natal é uma festa tão íntima e familiar que se nos arrepia a alma só de pensar que um estranho nos iria entrar pela porta dentro, sem que nós tivessemos qualquer controlo sobre situações daí advidas!

Com isto, não quero que pensem que sou insensível aos problemas sociais e à solidão da Noite de Natal. Como já disse por aí num blog,passo um ano inteiro a procurar ajudar quem conheço e precise da minha ajuda, de forma a que possam reconstruir as suas vidas, com dignidade e autonomia. Trabalho assim para que se criem possibilidades de virem a ter o seu Natal!

Não acredito, nem gosto da caridadezinha natalícia, quando se passa o resto do ano a olhar de alto, sem nada fazer em prol do outro.

Quando chega o Natal, gosto da intimidade, do sabor a família, do enraízar de valores tradicionais, por isso, seria capaz de fazer o mesmo que tu.
Não seria capaz de, se tocassem à porta, deixar fosse quem fosse lá fora, mas convidar...

Não sei como acabou a tua história, mas acredito que de alguma forma terás contornado a situação de forma a mostrares aos teus filhos que há maneiras muito boas e dignas de auxiliar quem necessita.

Beijinho grande e eu é que agradeço teres mandado a tua memória!