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Quando eu era menina
(e já lá vão tantos anos) o Natal era uma festa.
Meus pais, e meus avós diziam que na noite de Natal o Menino Jesus vinha recompensar os meninos bons e trazer presentes.
Nós vivíamos num barracão de madeira que em tempos fora habitado por 4 casais e respectivos filhos, mas no qual ficaram apenas os meus pais, quando os outros casais se foram.
O barracão tinha um salão com 11 metros ao fundo do qual tinha um fogão, constituído por duas fileiras de tijolos com uma grelha em cima, e um forno de tijolo onde minha mãe cozia o pão.
Pelo Natal todos os anos vinham meus avós do Norte e se juntavam lá em casa com alguns dos filhos, - meus tios.
Não havia rádio, nem TV, nem sequer luz eléctrica.
Mas haviam 3 candeeiros a petróleo, que na noite de Natal ficavam acesos até depois da meia noite. Antes do Natal meu pai colhia no pinhal perto da nossa casa, muitas pinhas, que debulhava.
Partia alguns pinhões para comermos e os outros eram para jogarmos.
Ele mesmo fazia uma piorra com o Rapa Tira Põe e Deixa.
Ou então jogávamos ao "Pinhas alhas" que era assim. Cada um tinha 50 pinhões para começar o jogo. Pegávamos uns quantos na mão fechada, e dizíamos para os parceiros "Pinhas alhas" e o outro respondia "abre a mão e dalhas"
"Sobre quantas?" E saía um número. Se fosse a quantidade que tínhamos na mão, tínhamos que dar os nossos pinhões. Mas se errassem tinham que nos dar tantos pinhões quantos tínhamos.E era o nosso entretém.
Pelas 10 horas, meu pai dizia que tínhamos de ir para a cama e mandava-nos pôr os tamancos junto ao fogão para o Menino Jesus deixar os presentes.
E nós lá deixávamos os tamanquitos e íamos para a cama na esperança de que nesse ano o Menino Jesus deixasse uns brinquedos iguais aos dos filhos do capitão que geria a Seca do Bacalhau, onde os meus pais trabalhavam e nós vivíamos.
Mas no dia seguinte era sempre a mesma coisa. Uma tremenda decepção, pois lá só havia meia dúzia de rebuçados e dois ou três figos secos.
Lembro-me que um ano, decidi esperar acordada a chegada do Menino Jesus para lhe perguntar porque é que deixava lindos brinquedos aos filhos do capitão que eram meninos ricos a quem não faltava nada e a nós que éramos tão pobres que não tínhamos nada só deixava rebuçados.
Consegui manter-me acordada e quando ouvi barulho, levantei-me e apanhei a minha mãe a pôr os rebuçados nos tamancos.
Fiquei tão revoltada, pensei que o Menino Jesus não queria saber de nós, fartei-me de chorar, e foi a
minha avó que para me acalmar, me explicou que o Menino Jesus não vinha dar prendas a ninguém que era uma tradição dizerem isso porque fazia anos que Ele nascera, mas que na verdade as prendas eram dadas pelos pais e os meus não tinham dinheiro que desse para outra coisa que não os rebuçados.
Foi um choque e um alivio ao mesmo tempo.
4 comentários:
Olá Elvira
è com muita alegria que a recebo aqui neste cantinho.
A sua memória de Natal é comovente. Gostei muito de a ler.
è incrível a maneira como nos estamos todos a conhecer melhor. Estou a gostar muito.
Tomei a liberdade de colocar umas imagens, mas se quiser retiro-as. Esteja à vontade.
Um beijinho Grande com sabor a pinhões!
Imagens muito bem escolhidas por sinal. Sinto-me muito honrada e feliz por as minhas memórias terem merecido o seu interesse.
Um abraço e muito obrigada
Também gostei muito.
O ambiente descrito cheirava mesmo a Natal.
Parabéns
Licas
Comovi-me com as suas memórias Elvira.
Uma linda partilha e tudo porque a nossa Quica tem uma grande imaginação.
Quica Querida,
Estou quase a terminar as minhas....vais recebê-las em breve.
Abraço apertadinho
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