quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

M.5 Memórias da Quica " É Hoje o Dia "




É Hoje o Dia


- Já é hoje ?
- Não, ainda faltam 8 dias!
A menina tentava contar pelos dedos, mas só sabia contar até 5… como é que se chegava ao 8 ? Era muito tempo?
- Gija, já é hoje?
- Não! Amanhã vamos buscar o pinheiro e o musgo, depois de amanhã é que é o dia!

Depois de amanhã? Pensava a menina com os seus olhos verdes brilhantes, de quem já tinha vivido 4 Natais e tinha gostado muito! Depois de amanhã, deve ser depois de dormir…

E sonhou com florestas e gnomos com enormes pinheiros às costas e estrelas que vinham a correr do céu para enfeitar o pinheiro! E a menina voava, voava com as estrelas e olhava cá para baixo para as luzinhas da sua cidade que se começava a enfeitar para o Natal…

- Quica, acorda! Vamos lá! O Avô já está pronto para irmos para a serra!
Num instante vestiu as calças, uma camisola, um casaco bem quente, umas botas, um cachecol e um garruço para não ficarem as orelhas geladas.
Subíamos a nossa Estrela, como o Avô lhe chamava, devagarinho, por causa do gelo e íamos a um sítio que se chamava Pião! Morava lá um Senhor que nos dizia onde se podia cortar o pinheiro, tarefa que competia ao avô! A menina e a Gija ficaram a encher os cestos com musgo ainda molhado de orvalho.
- Gija, como é que nasce o musgo?
- São os duendes que o fazem numa fábrica de sonhos, para servir de cama às fadas, aos coelhinhos, aos cogumelos…
- Olha um cogumelo!
- Não o apanhes, vamos levá-lo junto com o musgo. Vai ficar muito bonito!
Naquela noite, toda a casa cheirava a Magia de fadas da floresta.
- Gija, é amanhã?
- É Quica. É amanhã! Agora vais para a cama fazer um soninho porque amanhã temos muito que fazer!
E deu à menina um beijo com sabor a surpresas e a festas!

- Acorda Guigui! É hoje! É hoje!
- Valha-me Nossa Senhora rapariga, ainda só são 6h da manhã. Dorme que ainda é cedo!
Mas a menina não queria dormir mais. Devagarinho foi ao quarto da Gija, mas a porta estava fechada! Se calhar era mesmo muito cedo! Foi então em biquinhos de pés para a sala, onde o Bobi dormia debaixo da mesa, com uma orelha arrebitada para qualquer barulhinho estranho! E ali ficou com o cheirinho a musgo e a pinheiro, à espera que a casa acordasse, porque finalmente, já era “Hoje”!

Depois de beber o leite e comer o pão, veio o Avô.
- Então Quica, vamos trabalhar?
- Sim! Sim! Disse a menina com os grandes olhos a brilhar, antecipando a alegria que se aproximava!
Subiram-se as escadas do sótão, e o Avô abriu a porta mágica!
- Ora vamos lá ver: é esta, esta, esta e esta! Podes levar esta Quica que é levezinha, mas com cuidado, para não a deixares cair!
A Menina pegou na caixa com muito cuidado e seguiu o Avô até à sala!
- Posso abrir vovô?
- Não. Primeiro, vamos por o pinheiro, as caixas e os jornais!
Num instante, transformou o canto da sala, num sítio mágico, onde caixas e jornais amassados faziam montes, e vales, sempre à sombra do sr. pinheiro que parecia brilhar de orgulho!
_ Bom, agora vamos lá abrir as caixas!
Da primeira saíram belas bolas coloridas e brilhantes que dormiam há um ano, nos seus lençóis de papel de seda!
- Cuidado Quica! Estas vieram Paris e estas vieram de Londres… Um dia quando fores crescida hás-de ir a Paris!
E as lindas bolas parisienses, londrinas ou marroquinas, iam enfeitando o pinheirinho, que sabendo-se importante, esticava os seus ramos verdes, com muita delicadeza para que neles pudessem atar as bolas de tanta beleza!
A seguir, abriu-se um cestinho de verga, barrigudo, onde muito enroladinhos espreitavam fios de ouro e de prata que fizeram de pulseiras, colares e cachecóis ao pinheirinho. Que lindo que ele estava!
Agora que o pinheiro no seu canto estava enfeitado, chegou a vez do musgo e do cogumelo, que pelas mãos do Avô foram tomando forma de tapete mágico por cima de caixas e de jornais.
Faltavam duas caixas!
Da primeira saiu uma linda cabana, com o telhado cheio de palha! E uma casa com janelas azuis, outra com portas verdes, outra tinha uma varanda, todas feitas em madeira e muito bem pintadinhas. E mais uma igreja, uma ponte, e um castelo!
O Presépio ia crescendo perante os olhos extasiados da menina!
Numa caixinha, estavam as pratas dos bombons, muito esticadinhas com a ponta das unhas, que serviram para fazer o rio!
Finalmente a última caixa, a que a menina mais esperava!
- Avô, posso tirar os papéis?
- Só das mais pequeninas. Eu vou-tas dando!
Assim pelas mãos da menina passaram muitas ovelhas, tantas que ela nem as sabia contar. Eram mais do que cinco!
- Olha Quica, esta é Nossa Senhora!
- Eu sei, é a Mãe do Jesus! E aquele é o S. José o que tem um pau nas mãos! Onde está o Menino Jesus?
- Está no fundo, guardado noutra caixinha. Vamos desembrulhar primeiro estes todos!
E assim foram tomando lugar os pastores, as lavadeiras, o moleiro com o burrinho, o pobrezinho, que tinha uns olhos muito tristes, os reis magos, os camelos e as ovelhinhas que eram semeadas por toda a parte!
- Avô! Olha a caixa do Menino Jesus!
E do meio dos papéis, saiu a figura de que a menina mais gostava. Um bebé só com fraldinha, com os bracinhos esticados e um grande sorriso na cara! Foi posto, numa caminha de palha com muito jeitinho, para não se partir nenhum dedinho!
- Ó Maria Luísa, chamou o Avô pela Gija!
- Diga Pai, que quer?
- É preciso um paninho para tapar o Menino!
E da gaveta dos panos de renda, saiu o paninho para tapar o Menino Jesus. Só se tirava na Noite de Natal, que era quando Ele nascia!

Só faltava uma coisa! A neve! O Avô trouxe farinha, e foi fazendo caminhos brancos no musgo, e depois espalhou farinha por todo o presépio, para parecer que tinha nevado!
- Avô, O Menino Jesus vai-me trazer presentes?
- Portaste-te bem? Se te portaste bem e vieres todos os dias cantar ao Menino Jesus, de certeza que Ele não se vai esquecer de ti!

Então, a menina ali ficava, a cantar a canção de natal que melhor sabia!
Ó meu Menino Jesus
Ó meu Menino tão belo
Só Tu quiseste nascer
Na noite do caramelo!
*
Entrai pastores entrai
Por este portal sagrado
Vinde adorar o Menino
Numas palhinhas deitado
*
Gló-ó-ó-ó-ó ó-ó ó
Ó- ó- ó- ria
In Excelsis Deo

Esta é a memória mais doce que aquela menina guarda do seu natal de criança. Desde então, todos os anos, no dia 8 de Dezembro, faz o presépio, primeiro com os filhos, este ano pela primeira vez com a neta, com o coração cheio de ternura e de emoção, embrulhados em papel de seda, com todo o cuidado, para que nada se parta e possa perdurar na memória de todos com quem ela convive.

 Este Natal, passou-se na Covilhã, em 1961, e recordo-o como se fosse hoje
Que o Avô , a Gija e a Guigui, de lá do Céu, possam ler estas memórias, pois a eles as devo.
Obrigada.





Presépios com algumas figuras da minha infância, mas feitos cá no Porto há relativamente pouco tempo

23 comentários:

Tite disse...

Quanta ternura se sente nesta tua Memória de criança mas também de alguém que sempre lidou com elas.

A tua neta vai adorar fazer o Presépio contigo quando tiver a idade que aqui recordas.

Por esta razão eu gosto tanto desta Quadra.

Pós mágicos de Estrelas

Eliane disse...

Querida Quica!
Que bela recordação!
Pode trazer o anjinho do meu blog,ele vai adorar voar por aqui!
Beijinhos!

Cândida Ribeiro disse...

Linda a tua história, doce Quica.

Estava a ler e parecia ouvir a tua voz....que linda memória de Natal!
Um tempo que não volta mas que te enche o coração de amor sempre que o recordas.

Adorei ler-te e conhecer-te mais um pouco.

O meu abraço apertadinho

RETIRO do ÉDEN disse...

Boa Amiga,
Obga. pela ternura da tua compreensão...senão fosses tu e as amigas eu não teria tido este post. daí ter pedido autorização.

Retira o que achares bem e gostes. Seja o que fôr...não tenho preferência.

Eu própria é que me custou retalhar pedaços dos meus Natais. Mas isso sou eu.
Quanto a quem lê, terá de escolher o que mais achar que lhe toque, ou que seja conveniente. O mesmo com as fotos estás inteiramente à vontade. É um prazer que me dás.
Muito e muito agradecida pela tua amizade e sentimentos tão belos.
Agora fico à espera.
Bjs. sinceros

Mer

poetaeusou . . . disse...

*
Amiga
que belo o Natal da Quica,
que lindo o Natal das Crianças,
,
e o Natal dos Adultos ?
e o Natal do meu Irmão ?
que vagueia na dor sem dor,
por não mais a dor suportar,
nas ruas e nas pracetas,
nos becos e nas vielas,
nas luzes que não iluminam
o breu do seu cativeiro . . .
,
na quadra que se aproxima
sou sempre incapaz de soltar a
criança que há em mim,
porque será ?
,
conchinhas serenas, deixo,
*

Licas disse...

Querida Quica
Mais uma memória tão linda, tão viva, tão actual.
Que Deus te conserve essa recordação e que pelo menos no dia 8 de Dezembro ela salte cá para fora, trazendo toda aquela infância que há em ti.
Um abraço amigo
Licas

Beijinhos de cor disse...

Querida Tité

Estou tão contente por estarmos todos a recordar os momentos belos dos nossos natais!

Tem sido muito bonito e penso que a maioria das pessoas tem gostado.

O meu natal é sempre um momento do ano de grande ternura.

Beijinhos com cheirinho a aletria

Tite disse...

Pó linda,

Ainda bem que estás por aí. Era para te perguntar se não achas a Memória da Elvira boa para trazer para o teu blog?

É que eu já lhe sugeri no meu, mas não sei se ela coloca o follow-up dos comentários. Diz qq coisa para eu lhe enviar um mail.

Jinhos com canela

Beijinhos de cor disse...

Obrigada Eliane. Vou gostar de ter o teu anjo lindo aqui no meu cantinho.

Então e as memórias? não me acredito que uma fada como tu, não saiba escrever uma história de Natal!

Beijinhos com sabor a Natal Portugês!

Beijinhos de cor disse...

Claro que adorava!

Manda, manda, que eu tenho muito gosto em ter aqui a Elvirinha!
Bjinho

Beijinhos de cor disse...

Canduxa

Nem imaginas que bem me sinto. Parece que estou a dar um novo alento ao Natal deste ano, que tem parecido tão tristonho por todo o lado.

Beijinhos doces, com sabor a pão de ló com queijo da serra!

Beijinhos de cor disse...

Mer

Como vês, já trouxe o teu "Testamento" (palavras tuas) para aqui. Como já disse no teu blog, gostei muito. Acho que estamos a conhecer-nos todos um pouco melhor, graças à troca destas memórias.

Beijinhos doces, com sabor a rabanadas

Beijinhos de cor disse...

Poeta dos meus encantos

Sabes, no natal, dou-me autorização para ser um pouco "egoísta" de emoções.
Para que possa passar a magia que tento criar junto da minha família, fecho um pouco o coração às preocupações do mundo exterior, porque passo um ano inteiro, ao contrário de muita gente que só se lembra deles nesta época, preocupada com o bem estar do mundo que me rodeia e de quem conheço e precisa da minha ajuda.

Durante todo esse tempo contribuo ACTIVAMENTE, não é só de boca, para que aqueles que me rodeiam tenham condições de ter um Natal condigno. Depois, trato de, no seio dos meus, preservar e fomentar os valores tradicionais que fazem do Natal a época mágica que é.

Há 53 anos que vivo o Natal, e como toda gente, tenho sofrido perdas dolorosas e tenho pessoas que sei de antemão que não vão ter um Natal como o meu, no entanto tenho a consciência tranquila, os pés no chão e a cabeça sempre nas estrelas, o que me permite ir vivendo o Natal sempre com muita ternura no coração.

Hoje o relatório é grande!!! :)
E as tuas memórias? Li no teu canto de maresia que não gostas de falar de ti...mas às vezes faz bem esvaziar a alma!

Beijinhos com sabor a Bolo Rei ( sem fava)

Beijinhos de cor disse...

Querida Licas

acho que já disse tudo o que podia dizer sobre as minhas recordações de Natal. Se fosse a escrever, não tinha Blog que chegasse!

O dia de fazer as filhóses.

As vésperas de Natal.

A Missa do Galo, onde acreditava que o Menino Jesus estava a nascer.

Os nevões ao abrir as janelas no dia 25

As férias de Natal

As peripécias que mais tarde fazíamos para por as prendinhas ao pé do presépio sem que os pequenitos dessem conta

Tudo dava origem a lindas memórias...

Beijinhos minha querida.
Fica com o brilho das estrelas do meu coração.

alegria de viver disse...

Querida amiga
Estou emocionada, depois de ler sua memoria, lembrei dos Natais que passei com minha querida familia aí,e quantos deles já se foram.
Mas vamos lembrar só dos momentos.
Adorei seu conto.
Com muito carinho BJS.

Beijinhos de cor disse...

Rufina querida

Eu já fiz o desafio! Vamos lá escrever essas memórias, quem sabes ganhas o prémio!!!
E o teu blog também fica mais rico com as tuas recordações do Natal de cá!!!

Beijinhos doces minha querida

Elvira Carvalho disse...

Que memórias tão bonitas.
Fiquei encantada com as memórias e com a maneira como a autora as descreve. Vi-me ali naquela sala assistindo à montagem do presépio.
Um abraço

Tite disse...

Elvira

Eu sabia que tu ias gostar do modo como esta amiga - Educadora de Estrelas - sabe interessar as crianças e as Avós das crianças.

beijosss

Beijinhos de cor disse...

Elvira

Obrigado pelo elogio.

Eu gosto muito de contar e escrever histórias.
Tive um bom professor, que foi exactamente o avô de que eu falo nas minhas memórias.
enquanto tive o privilégio de ter a sua companhia, encheu.me a cabeça de magia e o coração de coisas boas.Faleceu quando eu tinha 10 anos. Agora, é só seguir as passadas dele que deve estar no Céu rodeado de anjibhos a quem conta as suas histórias.

Um beijinho muito grande e volte muitas vezes, porque gosto de gente bonita!!!

Beijinhos de cor disse...

Tité Fada madrinha

Estragas-me com tanto mimo!

Beijinhos com sabor a sonhos, com calda de açucar!

Tite disse...

Quica,

Quem quer dar cabo da minha dieta és tu.

Então hoje é beijos com sabor a sonhos e calda de açúcar?

Bem... então podes chegar-te à frente que por aqui tenho umas broas castelares bem fresquinhas e um chá verde que faz bem ao colesterol à tensão e elimina a gordura

Beijinhos de cor disse...

Tité

Já tou cos pés debaixo da mesa!
Põe la a toalha que eu vou já a correr e levo o meu chá verde com menta que bebo há mais de 5 anos, seja no verão fresquinho, com uma folha de menta a boiar, seja no inverno bem quentinho a fumegar!
até rimou!

Beijihos.

Tenho comentários no post dos presépios!!!!!! :))

Tite disse...

Querida Quica,

Já lá fui ao teu Presépio e agora vou a correr ver o desafio da Licas.

Beijos de Magia com Pó Estrelado