Vertente sul da Serra do Marão por Quica |
Quem me dera ser poeta
E saber escrever com os olhos
Porque a minha mão não chega
Para tudo enletrar
Vejo o belo aos molhos
Sem ao papel
o saber agarrar
Oiço
Cheiro
Apalpo com o sentir
Sem o saber transmitir
A não ser com a mente
Que salta e foge
Entre tanta beleza
Que toda a viagem se sente
Urze, maias e giestas
Tão duras no picar
Tão intensas no cheirar
Tecendo montes e escarpas
Encostas antes queimadas
Mas tão belas
Quando com o olhar
As podemos acariciar
Apetece-nos a alma encher
Daquele belo ver
Mas mais adiante
Outro instante
E é tanta a emoção
Que até entorpece
E em brandos braços
Em doce magia
Somos transportados
E prá vida acordados
Por doce melodia
Que o melro empoleirado
Enche com o seu trinado
Mas já me sinto voar
Como borboleta
Que não tem onde poisar
E correm-me já os olhos
No casario doutro lugar
E é o fumo
Que da chaminé sai brando
O sabor do pão
Na boca apetecendo
E paladares recordando
E o riacho corre ao lado
Livremente
E com doce entrega
Na terra penetra
E com carinho
De mãe e de vida
As sementes rega.
Tudo isto vêem meus olhos
Outro tanto disto, o vêem também
Mas pobre é a minha mão
Pobres são as minhas letras
Enrolam-se em emoção
Perdem-se na recordação
E não chegam
Nunca vão chegar
Para tanto belo enletrar
Sonho...
um dia quem sabe
Um poeta de olhos
Me vá ensinar
Viagem atravessando o lado sul da Serra do Marão...
Para vocês com Pó de Estrela desta serra de onde se vê a Minha Estrela.